É notório o impacto imediato do Covid-19. Tivemos que acelerar em anos ou décadas um processo que já existia de comunicação, estudo e trabalho remoto. Áreas refratárias a tecnologia ou ao famigerado home-office, compulsoriamente passaram a adotar o modelo em todos os departamentos possíveis e se adaptar ao seu uso, mas qual será seu possível impacto no design?
Em primeiro lugar, devemos nos lembra de que design não é aquela arte bonitinha que fazendo no Photoshop. Design é qualquer concepção que defina a forma e a funcionalidade de um produto, seja ele físico ou virtual.
Em janeiro você se imaginava em um e-commerce escolhendo estampa de máscara que não fosse pro carnaval? Quantos de nós se viu instalando os APPs de mercados para fazer as compras dos próximos 15 dias? E dos mercados que frequentava, quais possuem bom sistema e quantos outros nem venda online possui? Não é da nossa cultura o uso de máscaras, muitos brasileiros ainda possuíam aversão em comprar coisas pela internet e o que era tido como intrinsicamente cultural, em questão de poucas semanas teve de dar lugar à novas rotinas, novas necessidades e novos interesses.
Toda pandemia é responsável por mudanças de grande impacto na forma como pensamos o urbanismo e nossos hábitos. Lavar as mãos, canalizar dejetos, proteger os alimentos do contato de animais e insetos, não defenestrar o lixo nas ruas e vacinação em massa são só alguns dos muitos exemplos de aprendizados que mantemos de outras epidemias e que geraram toda uma série de novos produtos que fazem parte de nosso cotidiano de forma que nem pensamos sobre o assunto.
Podemos imaginar que passada a pandemia, se você estivesse interessado em comprar um imóvel, acredito que possivelmente daria mais prioridade para aqueles em que haja um espaço para você ter seu home-office isolado da casa, imagino também que lhe pareça um bom diferencial se o imóvel possuir uma área de serviço ou banheiro próximo à entrada, onde as mãos e rosto possam ser lavados, assim como roupas e calçados possam ser retirados antes de passar por toda casa, certo?
Questões que talvez não tivessem relevância até entrarmos na quarentena, hoje martelam nossas cabeças todos os dias. Qual a necessidade por exemplo de abrir a porta do elevador e clicar onde quero ir se eu já moro no prédio e se não moro, é prática comum que já tenha sido anunciado na portaria. Em muitos prédios comerciais isto já ocorre com o crachá ao passar pela catraca, mas câmeras de segurança e assistentes de voz podem ser nossos novos mecanismos para se checar meus acessos e me levar até onde desejo ir.
Se acha isso muito futurista para ser usado pelo cidadão médio em pouco tempo, usemos o que já temos em mãos. Hoje boa parte dos celulares possuem tecnologias NFC que lhe permite interagir com outros dispositivos apenas o aproximando. Algumas operadoras de pagamento virtual como o Samsung Pay e Apple Pay já possuem este modelo que evita ter de inserir cartão e digitar senha nas maquininhas das lojas assim como já é testado este modelo pra o uso no transporte público.
Este modelo tem apresentado grande crescimento na busca por parte dos usuários por sua praticidade e tudo leva a crer que tenha ainda mais adeptos agora na tentativa de mitigar contato com superfícies constantemente expostas à riscos de contágio e hoje pode ganhar força àqueles que se viam resistentes ao seu uso até então.
Nos auto-atendimentos bancários, este mesmo recurso atrelado à outras validações de segurança como identificação facial ou de retina nos poderiam ser um substituto das tradicionais senhas ou escaneamento de digital como ocorre com as ATM de bancos como o Itaú e Bradesco por exemplo.
Outra aposta são os assistentes virtuais, Bixby, da Samsung, Alexa, da Amazon, Cortana, da Microsoft, Siri, da Apple, Google Assistant e outros que já são realidade e seu uso tende a ser cada vez atrelado ao seu dia a dia. Por que não explorarmos seu uso com os dados do transporte público para nos indicar quanto tempo temos até o próximo ônibus chegar ou apontar qual vagão de metrô possui menos usuários? Eu não poderia ter um assistente que preenche a ficha nos lugares em que preciso me cadastrar?
Na área da saúde, em casos de baixa gravidade existe muito espaço para criação e aperfeiçoamento de modelos e tecnologias para adoção da telemedicina e o atendimento médico a distância ou ao menos agilizar o processo já tendo o processo de triagem antes de ir ao hospital para evitar que o paciente fique por tempo prolongado nas salas de espera exposto à outros agentes contaminantes. Para outros casos, dispositivos wearables como relógios, pulseiras e anéis já são realidade, mas seu uso ainda possui muito o que evoluir e podem se tornar grandes recursos para o acompanhamento médico.
Já o ensino à distância tem ganho espaço nos últimos anos, mas ainda é o patinho feio da educação. Muitos cursos ainda não estão adaptados à uma dinâmica cheia de especificidades e limitações de um lado e de outro, pouco conhecimento das tecnologias e recursos que podem ser explorados dentro deste ambiente. De qualquer forma, mesmo os alunos que prestaram para fazer cursos presenciais, foram catapultados para a EAD com o surgimento do Coronavírus. Isto terá como primeiro impacto o aumento da receptividade ao modelo da educação à distância ao mesmo tempo que destes alunos, muitos que apresentavam predileção pelo ensino presencial, encontrarão outras vantagens que o ensino virtual pode lhe oferecer e com isso, torna-se um campo rico para crescimento.
Seja no criação de interfaces amigáveis, produção de medias audio-visuais mais cativantes e desenvolvimento de projetos mais interativos e aqui, acredito eu que as EADs que souberem melhor se apropriar dos modelos encontrados nos jogos virtuais, utilizar da gameficação na produção de seu conteúdo e conseguir criar um ambiente virtual em que os alunos se sintam mais conectados entre si, gerando maior sentimento de pertencimento, se destacará muito rapidamente neste meio.
Enfim, o assunto é vasto, as possibilidades são infindáveis e eu gostaria de propor esta reflexão. As tecnologias estão aí, as necessidades estão sendo criadas a cada dia da crise, nossos hábitos estão se transformando rapidamente e como bem disse o Atila Iamarino, quando tudo isso acabar, voltaremos para um novo normal.

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